quarta-feira, 28 de maio de 2008

Esse texto foi pego emprestado do blog Garotas que Dizem Ni, pois se aplica exatamente à minha vidinha...

Hoje eu vou tomar um belo e saudável café da manhã. Nada de Coca-Cola e bolacha recheada. Vai ter suco de laranja (com pelinha, porque faz bem), queijo branco, frutas e torrada de pão integral. Hoje eu também vou almoçar melhor. Aliás, vou cozinhar. Sem essa de tirar uma embalagem retangular de comida do congelador, enfiar no forno de microondas, esperar três minutos e mandar tudo para dentro enquanto assisto a algum programa estúpido na televisão. Hoje eu não vou ver televisão. Vou começar a ler um livro bem casca-grossa, tipo “Os Lusíadas”. E, quando for jantar, não será um saco gigante de pipoca na sessão das 11 no cinema – e sim uma sopinha leve, reconfortante e nutritiva.

Hoje eu vou arrumar de uma vez por todas as roupas dentro das gavetas da cômoda. Vou dobrá-las como se deve (e não apenas amarfanhá-las de qualquer jeito). Daí, vou guardá-las levando em consideração alguns critérios, como, por exemplo, usabilidade. As peças que eu uso mais ficam em cima, as que eu uso menos ficam em baixo. Vou separá-las também por tons e por roupas de calor, frio ou meia estação. Hoje vou terminar meu casaquinho de crochê, pregar o botão que caiu há quatro meses daquela camisa e fazer barras nas calças. À máquina. Sim, hoje eu vou voltar a usar minha até então empoeirada máquina de costura. E depois vou arrumar toda a bagunça, sem deixar um pedaço de linha fora do lugar.

Hoje eu vou criar coragem e olhar meu saldo bancário. Vou vasculhar meu extrato e, de calculadora em punho, vou reparar se todos os pequenos impostos e taxas estão dentro da normalidade. Vou começar a prestar atenção nos meus gastos, tomando nota de todas as compras que eu faço e vou parar de gastar com coisas bobas de que não preciso. Vou aprender a economizar. E, ainda, vou sair pela casa recolhendo todas as moedas perdidas na lavanderia, no fundo da minha bolsa, nos sacos de supermercado. Vou fazer planos para o futuro, aplicar em investimentos, agir mais de acordo com a minha idade. Hoje vou também brincar com bolhas de sabão e adivinhar formas de bichos nas nuvens.

Hoje eu vou limpar a geladeira. Jogar fora todos aqueles potinhos preenchidos por um dedo de conteúdo irreconhecível. E tomar uma providência sobre o leite que passou da validade e o pão que começou a criar uma colônia de microorganismos. Vou passar papel toalha com desinfetante na prateleira em que pingou a aguinha que fica estacionada na bandeja de presunto. Vou fazer um bolo com os dois últimos ovos antes que apodreçam e vou encher a forma de gelo. Hoje vou ao supermercado comprar apenas o essencial, sem ceder a tentações como salgadinhos sabor cheddar. Vou comprar alface sem agrotóxico e lata de ervilha sem um amassado sequer.

Hoje eu vou sair para passear pelo bairro. Não vou fugir das subidas muito íngremes nem vou amaldiçoar o vento gelado que começou a soprar. Vou falar “bom dia” para todas as pessoas que cruzarem meu caminho, até para o chato do vizinho da frente. Ok, hoje não vou chamar o vizinho da frente de chato, nem vou ficar remoendo a vez em que ele atravessou a rua e só para vir reclamar do barulho do meu sino de vento de bambu. Hoje vou pegar o metrô e ir ao museu. Mas, desta vez, não vou ficar apenas enfiada na lojinha – vou entrar nas exposições, prestar atenção em cada pincelada e ler cada uma das fichas explicativas ao lado das obras. Vou me inspirar e ter uma grande idéia.

Hoje eu vou ligar para o dentista para remarcar a consulta que perdi há um mês. Aproveitando o ensejo, vou agendar visitas a todos os médicos de todas as especialidades. Vou parar de adiar exames chatos e tentar marcar um check-up. Hoje vou levar meus óculos na óptica para ajustarem as hastes e depois vou passar no cabeleireiro para finalmente dar um jeito na juba que tomou conta da minha cabeça. Hoje vou fazer as sobrancelhas e as unhas. Vou aposentar a calça jeans e o tênis para vestir meia fina e sapato de salto alto. Hoje não vou tirar o sapato de salto alto depois de cinco minutos de caminhada. Vou andar pela sombra, desviar dos buracos, prestar atenção onde piso e olhar para frente.

Hoje eu vou ler o jornal do começo ao fim, não apenas a parte de quadrinhos. Vou passar a entender de bolsa de valores a política interna e externa. Vou fazer as palavras cruzadas até o fim, sem ceder à tentação de olhar as respostas no final da página. Hoje vou experimentar a culinária de um país distante e, quando for à padaria, vou pedir meu troco em chicletes. Vou voltar à academia e não vou desistir no dia seguinte. Vou fazer abdominais, correr na esteira e finalmente aumentar a carga dos pesos. Hoje vou planejar minha próxima viagem ainda que não tenha a menor idéia de como e quando e onde. Vou aprender a andar de skate e assoviar com os dois dedos.

Hoje eu vou plantar uma árvore e arrancar todas as ervas daninhas que insistem tomar conta do jardim dos fundos. Vou tentar exterminar as formigas que, atraídas pelo pote de açúcar, começaram a aparecer. Hoje vou começar um diário de papel (com cadeado) e um quebra-cabeça de cinco mil peças, daqueles com um céu imenso e uma montanha refletida no lago espelhado. Vou gravar um CD com minhas músicas favoritas de todos os tempos e vou tocá-lo enquanto ataco a pia de louça suja. Hoje vou deixar a gata fazer massagem na minha barriga sem me preocupar se ela vai puxar um fio da minha blusa nova. Vou dar uma gargalhada de perder o fôlego depois de chorar até os olhos incharem.

E se eu não começar logo, hoje já virou ontem.

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